A oração é parte de nossa vida cristã. O próprio Jesus nos ensinou a orar (Mateus 6, 9-13) e recomendou que tivéssemos momentos de oração pessoal (Mateus 6, 6). A oração é um impulso do coração do homem ao Transcendente. A oração é diálogo e ao mesmo tempo é um encontro. Tanto Clara como Francisco entenderam a importância destes encontros e nos legaram o testemunho de serem pessoas orantes. Ambos reconhecem o dom, a graça de Deus. Clara na sua vida em São Damião estabeleceu seu ritmo de oração e trabalho. A experiência de Clara de Assis é que tudo é graça de Deus, é dom de Deus. Desde a sua vocação, ela assim o entende (TestC 2-4). Mas Clara também sabe e experiencia a ação do Espírito Santo em sua vida. Para Zavalloni (1995, p. 206) a vida de Clara, centrada em Cristo, não esconde a ação do Espírito Santo, que é fonte de toda inspiração e sua “santa operação”, levando à união mística da alma fiel que se torna “mansão e sede do Criador” (3In 22).
No mosteiro de São Damião as irmãs celebravam a liturgia das horas; todas as horas canônicas eram comuns e davam ritmo ao mosteiro. Clara zelou por estas orações, pois era uma mulher de oração intensa, diligente e solícita; sua maior preocupação era a vida de oração, contemplação e exortação. Clara não separa a vida contemplativa da vida ativa e tudo para ela é transformado em oração. Lendo as descrições sobre Clara em oração, vê-se que ela estava nestes encontros toda inteira. A intensidade com que ela vive a oração também se expressa na força da sua oração onde emerge a ação do Espírito do Senhor que transforma, inclusive aquilo que ela toca. Igualmente suas palavras são capazes de transformar, como relatam as testemunhas dos milagres operados por Clara. Ela demonstrava total confiança na santa operação do Espirito do Senhor e as pessoas confiavam totalmente na força da sua oração.A Legenda Versificada descreve Clara saboreando a oração e o calor que tinha ao estar com o Esposo. Ficava como que inflamada e tinha alegria de inflamar as irmãs com fogo do que tinha a dizer. A Legenda também faz referência ao fato de que seu rosto se tornava mais claro, iluminado, comparando-a com Moisés que ficou com o rosto iluminado por encontrar-se com o Senhor, na montanha. (2LV19). A Legenda ainda diz que ela latejava de afeto e prostrava-se por terra em lágrimas. Abrandava os lábios, parecendo que já tocava Cristo (2LV 17). No processo de canonização também há testemunhos sobre Clara em oração, sobre como se colocava inteira, deitada por terra (PC 1, 7 e 9) e como resplandecia seu rosto ao sair da oração, em forma de um rosto mais claro e uma doçura que desprendia de sua boca (PC 6, 3).
Dessa forma, Clara nos inspira a sermos pessoas de intensa oração e de buscarmos constantemente a face do Cristo ressuscitado, nas mais variadas circunstâncias ou situações da vida, sejam elas de alegria ou de provações. Outra característica da oração de Clara é a força que emanava de sua oração. Na Legenda e no Processo de Canonização são muitos os testemunhos de milagres que foram alcançados pela força de sua oração. A Legenda de Santa Clara relata que a oração de Clara colocou os sarracenos em fuga de Assis. Saíram rápidos pelos muros que tinham pulado, derrotados pela força da sua oração (LSC 22, 9).
Mediante todos esses aspectos abordados sobre a intensa vida de oração de Santa Clara, vemos que ela, no seu tempo, deixou-se tocar pelo Altíssimo e Sumo Bem e não se cansou de buscar o encontro com Ele pela oração. Daí brotou um modo de vida marcado por uma espiritualidade. A buscado Espírito do Senhor e sua santa operação, o serviço aos mais necessitados, avivência do privilégio da pobreza e o não possuir propriedades e sendo uma profunda contemplativa na ação e doação, tudo isso acontece e se realiza, graças a uma vida mergulhada na mais profunda oração de encontro com o Senhor Jesus, seu esposo e mestre. Clara ainda hoje tem muito a nos ensinar de como viver uma autêntica e profunda vida de oração, mergulhada na fidelidade do Pai das misericórdias.
Daniel Silbernagel |