Os três ramos do Movimento Franciscano

Os três ramos do movimento franciscano são por assim dizer, frutos de diferentes divergências e também de circunstâncias históricas que fez com que cada respectivo ramo, seguisse seu processo dentro da história do Franciscanismo. Porém, importante salientar é que cada ramo através dos tempos, buscou seguir o projeto inicial sonhado por Francisco, mesmo sem o próprio Francisco ter a intenção de possuir seguidores, mais apenas de viver uma vida em Fraternidade, pautada no Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Vemos assim, a primeira Ordem ou primeiro ramo crescer, após a conversão de Francisco e a chegada de seus primeiros irmãos, pregando a penitência e vivendo em comunidade que crescia e era denominada de penitentes de Assis. Mais tarde, por revelação divina, Francisco começa a chamar o grupo de frades menores: ser irmão de todos, desde os últimos, os menores. Com esta opção de nome exorcizam toda a tendência ao poder, à riqueza, à prepotência, à violência. O número de integrantes ia crescendo e em 1217 este ramo já se organizou em províncias ou regiões, espalhadas por toda a Itália, mas também na Palestina e Francisco, seguindo o conselho do Papa, permite o ensino de Teologia aos seus frades e aos poucos, a clericalização vai crescendo, fugindo um pouco do sonho inicial de Francisco que era de viver o Evangelho em Fraternidade, tanto é que no ano de sua morte, Francisco já aceitava que seus frades vivessem em casas próprias, mais sempre como forasteiros e peregrinos. O exemplo de vida de penitência e amor aos leprosos vividos por Francisco e seus companheiros, tocava o coração de Clara, mesmo sendo de uma classe social rival (nobreza). Francisco estava muito surpreso com a determinação de Clara de seguir seus passos e não sabia como fazer para aceitar entre seus quadros uma mulher. À medida que Clara toma a decisão de ingressar no Movimento Franciscano, o bispo de Assis, Dom Guido I, foi consultado e acabou consentindo. Na noite do domingo de Ramos de 1212, Clara, havendo já vendido seus muitos pertences e dado o dinheiro aos pobres, foge de casa e vai em direção à Porciúncula, onde era esperada pelo grupo de Francisco. Corta então o cabelo e faz seu juramento.  Em seguida, na mesma noite, é conduzida ao mosteiro feminino beneditino de São Paulo de Bastia onde é acolhida temporariamente como servente, enquanto acalmasse a fúria dos familiares com sua decisão. Mais tarde, com outras irmãs se mudam para São Damião que passa a ser a residência oficial da ala feminina desse segundo Movimento. Esse movimento vai crescendo rapidamente e Clara pede ao Papa o privilégio da pobreza, quer dizer, de não ser obrigada por ninguém a aceitar posses e dotes. Como Francisco, ela está convencida que a riqueza afasta e discrimina as pessoas. Assim como o ramo masculino, o feminino teve suas ramificações, não no sentido de que o grupo tenha se dividido, como foi com os frades menores. Em torno de 1215 leigos, pessoas casadas, comprometidas com a família, queriam viver a mesma proposta de vida de Francisco. Através de dados históricos, o primeiro casal a se apresentar para esse outro modo de seguir os passos de Francisco, tenham sido Luquésio e Buonadona, de vida bem abastada. Sob a orientação de Francisco desfizeram-se de muitos bens e passaram a se dedicar aos mais necessitados, pedindo uma regra de vida a Francisco que escreveu a Carta a Todos os Fiéis, que seria o essencial da vida e desse terceiro ramo ou movimento que é o de seguir os passos de Jesus, em comunhão com a Trindade. Viviam pobremente e repartiam os bens entre si, conforme está no livro dos Atos dos Apóstolos nos capítulos 2 e 4. Apenas com a chegada do primeiro Papa Franciscano ao poder, Nicolau IV, em 1289, a Terceira Ordem Franciscana recebeu uma regra aprovada pela Cúria de Roma, tendo sua última ou atual regra reformada pelo Papa Paulo VI em 1978. Logo, tratava-se, na Terceira Ordem, de convertidos que voltavam a praticar a sua fé na sua vida diária. Reconhecendo a Deus, deram testemunho que Ele era o Senhor de suas vidas, adorando e honrando-o “em suas casas”. Isto é a expressão sempre repetida que se dava à forma original desta Ordem. Em outras palavras, tratava-se de pessoas que procuravam viver a sua fé nas suas famílias, nas suas profissões e através de seus afazeres dentro da sociedade. Como exposto inicialmente, cada ramo do movimento franciscano, formam uma única família, que nunca deve perder o espírito de seu fundador que é viver em comunhão de respeito e recíproca amizade, vivendo cada qual seu estilo de vida, mais nunca perdendo de vista, seu ponto de partida, como sempre alertou Clara. Por isso, cada ramo, dentro de suas próprias características contribuiu e continua a contribuir dentro da história da Igreja, para que o carisma do pai Francisco seja cada vez mais conhecido e amado que é seguir Jesus Cristo pobre, humilde e crucificado.

Daniel Silbernagel, OFS.