Caros irmãos!
Saúdo cordialmente os membros do Capítulo Geral da vossa Ordem. Agradeço ao novo Ministro geral, frei Carlos Trovarelli. Minhas felicitações a ele e aos Definidores gerais pela confiança que os irmãos depositaram neles.
Recentemente a Santa Sé aprovou as vossas Constituições renovadas no Capítulo Geral Extraordinário no verão passado. Para incorporar esta revisão, agora vocês discutiram e aprovaram os novos Estatutos Gerais, que abordam os elementos essenciais da vossa vida fraterna e missionária, tais como a formação, a interculturalidade, a partilha e a transparência na gestão econômica. Este trabalho é cansativo, mas é um cansaço bem gasto! De fato, as Constituições são o instrumento necessário para proteger o patrimônio carismático de um instituto e garantir sua transmissão futura. De fato, expressam a modalidade concreto de seguir a Cristo, proposto pelo Evangelho, regra absoluta de vida para todos os consagradas e, particularmente, dos seguidores de São Francisco de Assis que, em sua profissão, se comprometem a “viver segundo o forma do santo Evangelho” (cf. Testamento, 14). Fico impressionado com o conselho de Francisco aos frades: “Pregar o Evangelho, se for necessário também com palavras”: é um modo de viver. Se toda a vida consagrada “surge da escuta da Palavra de Deus e da acolhida do Evangelho como norma da vida” (cf. Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus, Propositio, 24), a vida franciscana em todas as suas manifestações nasce da escuta do santo Evangelho, como nos mostra o Poverello na Porciúncula quando, depois de ouvir a história do seguimento, exclama: “Isto que eu quero, isto peço, este anseio de fazer com todo o meu coração!” (cf. Tomas de Celano, Vita Prima, IX, 22).
O Evangelho é para vós, caros irmãos, “regra e vida” (São Francisco, Regula bulada, I, 1) e sua missão não é senão ser um evangelho vivo, “exegese vivente da Palavra”, como dizia Bento XVI (cf. Exortação Apostólica Verbum Domini, 83). O evangelho deve ser o vosso “vade-mécum”. Escutai-o com atenção; reze com ele; e, pelo exemplo de Maria, “Virgem feita Igreja” (cf. São Francisco, Saudação à Bem-Aventurada Virgem Maria, 1), medite-o assiduamente, para que, assimilando-o, conformem a vossa vida à vida de Cristo.
Este caminho do seguimento caracteriza-se, antes de tudo, pela fraternidade, que Francisco sentiu como um dom: “O Senhor me deu irmãos” (cf. Testamento, 14). A fraternidade é um dom a ser recebida com gratidão. É uma realidade sempre “em movimento”, em construção e, portanto, pede a contribuição de todos, sem que alguém se exclua ou seja excluído; em que não há “consumidores”, mas construtores (cf. Constituições, 55, 5). Uma realidade na qual podemos viver caminhos de contínuo aprendizado, de abertura ao outro, de troca reciproca; uma realidade acolhedora, disposta e disponível a acompanhar; uma realidade na qual é possível fazer uma pausa na vida cotidiana, para cultivar o silêncio e o olhar contemplativo e, assim, reconhecer nela a marca de Deus; uma realidade em que todos vós se consideram irmãos, tanto ministros como outros membros da fraternidade; uma experiência em que todos são chamados a amar e nutrir seu irmão, como a mãe ama e alimenta seu próprio filho (cf. São Francisco, Regula não bulada, IX, 11). Vos exorto a alimentar a fraternidade com o espírito da santa oração e devoção “ao qual todas as outras coisas temporais devem servir” (Id., Regula bulada, V, 2). Deste modo, a vossa vida fraterna em comunidade torna-se uma forma de profecia na Igreja e no mundo; e torna-se uma escola de comunhão, para ser exercida sempre, seguindo o exemplo de Francisco, numa relação de amor e obediência com os Pastores.
Outra característica da vossa forma de vida é a minoridade. Eu realmente gosto disso: pensar a vossa minoridade. Esta é uma escolha difícil porque se opõe à lógica do mundo, que busca sucesso a qualquer custo, deseja ocupar os primeiros lugares, ser considerado como senhores. Francisco vos pede de ser menor, seguindo o exemplo de Jesus que não veio para ser servido, mas para servir (Mt 20, 27-28) e que nos diz: “Quem quiser ser grande entre vós, será o vosso servidor e quem quiser ser o primeiro entre vós será o escravo de todos” (Mc 10, 43-44). Que esta seja a vossa única ambição: fazer-se servos, servir uns aos outros. Tendo vivido assim, sua existência será uma profecia neste mundo, onde a ambição de poder é uma grande tentação.
Preguem a paz. A saudação franciscana que vos distingue é “Paz e bem!”, “Shalom we tob“, em hebraico, que podemos traduzir com reconciliação: reconciliação consigo mesmo, com Deus, com os outros e com as criaturas, isto é, viver em harmonia: paz que te traz harmonia. É uma reconciliação em círculos concêntricos, que parte do coração e se estende ao universo – mas na realidade parte do coração de Deus, do coração de Cristo. A reconciliação é o prelúdio da paz que Jesus nos deixou (cf. Jo 14, 27). Uma paz que não é a ausência de problemas, mas que vem com a presença de Deus em nós e se manifesta em tudo o que somos, fazemos e dizemos.
Sejam mensageiros da paz, antes de tudo com a vida e, depois, com palavras. Sejam, em todos os momentos, instrumentos de perdão e misericórdia. As vossas comunidades sejam lugares onde a misericórdia é experimentada, como São Francisco vos pede na Carta a um Ministro: “E nisso eu quero saber se você ama o Senhor e me ama seu servo e o seu, se você se mostra dessa maneira, e isto é, que não há frade no mundo, que ele tenha pecado, quanto é possível pecar, que, depois de ter visto seus olhos, ele não retorne sem o seu perdão, se ele pedir; e se ele não pediu perdão, pergunte se ele quer ser perdoado. E se, mil vezes depois, ele pecar diante de seus olhos, ame-o mais do que eu por isso: que você possa atraí-lo para o Senhor; e tenha sempre misericórdia desses irmãos” (9-11). Não há paz sem reconciliação, sem perdão, sem misericórdia. Somente aqueles que têm um coração reconciliado podem ser “ministros” da misericórdia, construtores da paz.
Para tudo isso, é necessária uma formação adequada. Um caminho formativo que favoreça, nos irmãos, sempre a mais plena conformação a Cristo. Uma formação integral que envolve todas as dimensões da pessoa. Uma formação personalizada e permanente, como um itinerário que dura toda a vida. Uma formação do coração, que muda nossa maneira de pensar, sentir e se comportar. Uma formação à fidelidade, bem consciente de que hoje estamos vivendo na cultura do provisório, que o “para sempre” é muito difícil e escolhas definitivas não estão na moda. Neste contexto, há necessidade de formadores sólidos e experientes na escuta e nos caminhos que levam a Deus, capazes de acompanhar os outros neste caminho (cf. São João Paulo II, Exortação Apostólica Vita Consecrata, 65-66); formadores que conhecem a arte do discernimento e acompanhamento. Só assim poderemos conter, pelo menos em parte, a hemorragia dos abandonos que afetam a vida sacerdotal e consagrada.
Caros irmãos, concedo de coração a Bênção Apostólica a vocês e a todas as comunidades de sua Ordem. Rezo por vocês. E me consola também que o Ministro geral tenha dito que vocês rezaram por mim. Obrigado!
Papa Francisco
(Tradução: frei Luis Felipe C. Marques, OFMConv.)