Vida Religiosa Consagrada no enfrentamento ao tráfico de pessoas.

“Do grito que vem do Teu povo, Te escuto de novo, chamando por mim..”

Toda a vocação é para a missão, por isso não existe a Vida Religiosa Consagrada sem missão. Missão de Deus se torna a missão dos religiosos e religiosas e  se expressa no desejo de vida plena para todos, vida em abundância. Olhando a origem de todas as Congregações Religiosas nota-se, que todas querem dar a resposta ao clamor vindo do mundo dos pobres, que ecoou nos ouvidos dos seus fundadores (as) como um apelo de Deus e se fez carisma-missão.  Pode se dizer, que na raiz de todos os carismas fundacionais está o grito da vida ameaçada.  Um desses gritos, que escutamos na sociedade  é o tráfico de pessoas, por isso a Vida Religiosa  Consagrada no Brasil, através da Rede “Um Grito pela Vida” que foi fundada em 2007, quer dar a resposta à este clamor,  assumindo a dimensão profética da sua vocação. Profeta não pode ficar na neutralidade, mas deve tomar partido a favor da vida, do direito da justiça.

O Tráfico humano que atinge milhões de pessoas em todo mundo e no Brasil é resultado de um sistema sustentado pela lógica do mercado. Ser  humano virou coisa, virou objeto, tornou se mercadoria. Segundo as diversas pesquisas  realizadas em vários Estados brasileiros se constatou que o tráfico de pessoas atinge todas as faixas etárias, etnias, classes sociais, entretanto as vítimas mais vulneráveis provêm  das regiões mais pobres do país. A maior incidência do tráfico internacional  é para fins de exploração sexual.  Brasil é um país de origem, trânsito e destino das vítimas de tráfico de pessoas.

A Rede Um Grito pela Vida é uma rede Intercongregacional  e está presente em todas as regiões do País tendo 26 núcleos em 22 Estados e no Distrito Federal e conta com mais que 300  religiosas(os), de aproximadamente 70 Congregações e vários leigos que integram os núcleos. Com o lema  ‘Enfrentar o tráfico de pessoas é nosso compromisso’  a Rede assume a missão de atuar na prevenção, atenção às vítimas e incidência política.
Desde 2012 tive a oportunidade de integrar o núcleo da Rede Um Grito pela Vida em Belo Horizonte, que tem a sua sede na Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Rua São Paulo,818 em que junto com as religiosas  e religiosos de diversas congregações  desenvolvemos um conjunto de atividades de:

– Sensibilização  sobre o tráfico de pessoas nas Escolas, Universidades –  sempre dando a prioridade para os grupos em situação de vulnerabilidade, agentes de pastoral e lideranças comunitárias.
– Organização de grupos de reflexão e de estudo, aprofundando as causas e situações que favorecem o tráfico de pessoas: violência, questões de gênero, grandes construções e projetos, megaeventos, corrupção, impunidade, entre outras.
– Participação e mobilização social e politica de incidência na efetivação de Políticas Publicas de Enfrentamento ao tráfico de pessoas.
– Capacitação de multiplicadores, visando ampliar a ação de enfrentamento ao tráfico de pessoas principalmente para fins de exploração sexual.

Para realização do trabalho de prevenção ao tráfico de pessoas contamos com apoio financeiro recebido da Mitra Arquidiocesana de Belo Horizonte / Vicariato Episcopal para Ação Social e Política.

Trabalho foi realizado em parceria com  Núcleo Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Campanha Coração Azul, JOCUM, Pastoral da Mulher de BH.

Desde 2015 faço parte da Coordenação Nacional  da Rede, vendo de perto o grande empenho das religiosas e religiosos  que lutam, denunciam, devolvem a esperança e libertam as pessoas das quais é tirada a dignidade

Nesses últimos meses na perspectiva das Olimpíadas no Rio de Janeiro foi desenvolvida  a Campanha ”Jogue a favor da vida” que tinha como objetivo  sensibilizar a sociedade  e o poder público para a realidade do tráfico de pessoas e exploração sexual, incentivando o fortalecimento e criação de medidas de prevenção e enfrentamento, intensificar o alerta para pessoas em contexto de vulnerabilidade social,  e sensibilizar turistas e autoridades sobre o impacto da exploração na  vida das pessoas e famílias afetadas, incentivando também a sociedade  para a ação e solidariedade em massa.  Maiores informações sobre as ações executadas durante essa Campanha podem ser encontradas no blog da Rede  http://gritopelavida.blogspot.com.br/

Investindo na mística baseada na Palavra de Deus, que sustenta as ações da Rede “Um Grito pela Vida”, estou convicta que o tráfico de mulheres e crianças com toda a sua complexidade se apresenta como ação missionária, um desafio-clamor que toca os corações dos religiosos e  religiosas e nos convoca a estarmos do lado das pessoas indefesas, com uma práxis libertadora ao modo de Jesus de Nazaré. Essa atuação na prevenção ao Tráfico de Pessoas não é só uma opção, mas torna se uma necessidade que o Evangelho nos impõe como condição de fidelidade ao Projeto do Reino.
Ir. Barbara Halina Furgal

Franciscana Missionária de Maria

Fonte:http://www.arquidiocesebh.org.br/site/opiniao_e_noticias.php?id_opiniao_e_noticias=13901