Ordem dos Frades Menores Conventuais

Artigos, Destaques, Formação › 21/06/2022

São Francisco e o Crucificado

Por Jaime Villa Valdez (postulante)


São Francisco era um fiel servidor de Cristo. A experiência do seguimento deu-se no encantamento que ele teve em seu processo de conversão, em aprender amar aquilo que era amargo e torná-lo próprio. Foi um processo difícil, cheio de dificuldades humanas, mas o próprio Cristo era seu único guia em todo este tempo. Surge um grande ser de amor ao ver a Cruz e saber que o silêncio fala onde não há palavras; quando Francisco sentia esse olhar de misericórdia e amor, que transpassa sua alma;e quando sente no coração os sofrimentos e dores da Paixão na forma da Cruz que se pode contemplar não somente no corpo, daquele que está ali pregado, mas no olhar. O olhar do Cristo mostra o seu coração que anunciava grande amor e
santidade, no qual poderemos compreender o sentido da missão e vocação do Crucificado.
O santo de Assis comtemplava e meditava junto ao Crucificado, que era aquele com quem falava com tanto carinho, e observava a caridade com a qual quis sofrer na Cruz. Teve seu encontro quando “Francisco saiu um dia para meditar, ao passar pela igreja de São Damião, que estava prestes a ruir de tão velha, sentiu-se atraído a entrar e rezar. De joelhos diante do crucificado, sentiu-se confortado imensamente em seu espírito e seus olhos se encheram de lagrimas ao contemplar a cruz. Subitamente, ouviu uma voz que vinha da cruz e lhe falou por três vezes: Francisco, vai e restaura a minha casa, vês que ela está em ruinas” (LM 2,1).
Viver a própria vida que Deus nos dá mediante o Crucificado que Francisco comtemplava, não é resultado de uma reflexão, de um postulado da teologia ou de acomodação ao ambiente da época. O Crucificado que comtempla Francisco é fonte que lhe brota do coração, depois vai expandindo, exuberantemente. Após viver o sofrimento comtemplado naCruz do Crucificado, ele sabe que essa fé é como um manancial de vida.
O pobrezinho de Assis descobre que desse momento que se aproxima de Jesus, também surge uma amizade, que não tem que ser tristeza, mas sim alegria, porque cada dia pode começar de novo pela glória do Crucificado, e essa alegria não é deste mundo, ultrapassa toda fronteira humana. Ela nos faz esse convite a deixar tudo para assumir o Crucificado em nossa vida. É assim que Francisco assume o que é ser crucificado neste mundo.
É desse encontro face a face, que Francisco tem com a Paixão do Crucificado, que nascem e brotamos valores que, hoje, conhecemos de Francisco: o respeito pelo outro, a dignidade de cada indivíduo,
a fraternidade entre os homens, a correção fraterna, a missão da paz, a solidariedade, a igualdade e a simplicidade do encanto pelas criaturas. A esses valores, ele adere por sua raiz na experiência religiosa que tem em Assis, sendo reflexo do que hoje é o nosso viver franciscano, uma vida que parte da experiência com o Crucificado.


Assim, Francisco começa, diante da Cruz, um caminho de mistério, porque para ele a Cruz não é fim, mas é fonte de amor que está aí vivo e de olhos abertos. É como o Crucificado que o olha e lhe diz: “Vamos reconstruir a partir do amor, mesmo que doe”. O amor exige sacrifício e entrega e saber onde somos capazes de chegar por amor, torna claro que quem mais ama, mais sofre, e quem sofre é porque mais ama. Porém, sentir os pregos de amor é ser capaz de sangrar por aqueles que amamos e estamos dispostos a dar a vida, mas uma vida em totalidade. É isso que inspirou Francisco a doar-se totalmente.
Francisco descobre, então, que seu amor pelo crucificado não surge espontaneamente, nasce conforme o modo que amamos e que tem que ser um amar de discípulo,como bom aprendiz do Cristo no escutar, falar e acolher. É esse seguimento que transforma e nos faz crer que a Paixão é a loucura do amor e temos que acreditar, como Francisco, na loucura da Cruz.

REFERÊNCIAS


FONTES FRANCISCANAS. Coord.: Dorvalino Francisco Fassini (2ed.). Santo André, SP: Editora O Mensageiro de Santo Antônio, 2020.


CRUZ, crucifixão, crucifixo, paixão (por Ignacio Omaechevarría). In: Dicionário Franciscano. Traduzido por Família Franciscana Brasileira. Petrópolis, RJ: Editora Vozes e CEFEPAL, 1983.

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