Ordem dos Frades Menores Conventuais

O modo de ser de Deus é Pobreza e Serviço

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Por: Frei Ricardo Elvis, OFMConv

Dentre os conselhos evangélicos, encontra-se a pobreza, cujas virtudes são o
serviço e a humildade. Cristo é, por excelência, o Servo Pobre e Humilde. A partir do
encontro com este Cristo Pobre e Servo Humilde, contemplado no crucificado, desperta em
Francisco um fascínio, pois ao contemplá-lo na igrejinha de São Damião ele fica “trêmulo e
atônito” diante de tão grande mistério de amor, pobreza, serviço e humildade.
Por muito, a pobreza foi reduzida apenas à falta, à carência e à necessidade de
bens materiais. Sempre de algum modo, a pobreza esteve ligada mais ou menos a uma notável
falta de bens. Porém, a pobreza não se reduz a isso. Pobreza não é um conceito abstrato, cujo
sentido permanece imutável em todos os tempos e lugares. Há diversos tipos de pobreza, entre
elas a pobreza material, a pobreza espiritual, da qual fala Jesus no sermão da montanha (Mt
5,3), a pobreza circunstancial ou condicional, e há também a pobreza voluntária.
Destarte, a pobreza no sentido evangélico, assumida por Francisco, consiste em
um sine proprio, isto é, um não apropriar-se nem de si, nem do outro, nem de coisa alguma.
É esta pobreza que norteia toda a vida de Francisco que, ao não se apropriar, soube doar-se a
Deus e aos irmãos em pura gratuidade. Tendo por espelho o Cristo que, se humilhou
assumindo a condição humana no mistério da encarnação, que se fez servo obediente até a
morte de cruz e que, até hoje, por seu amor gratuito, continua a se humilhar quando desce
todos os dias de seu trono real para nos servir na simples aparência de pão, Francisco quis
fazer-se pobre e servo porque o Cristo se fez pobre e servo.

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Pobreza e serviço estão intimamente ligados, pois só quem é verdadeiramente
pobre, ou seja, somente aquele que é capaz de abandonar-se inteiramente na gratuidade de um
amor esponsal alcançando a graça de esvaziar-se de si é, também assim, capaz de servir.
Podemos ver a verdadeira manifestação de pobreza e serviço ao contemplarmos o Cristo que
se ajoelha para lavar os pés de seus discípulos (Jo 13). O lava-pés é um testemunho fidedigno
de pobreza, humildade e serviço.
Francisco contempla a pobreza e o serviço de Cristo essencialmente em três
momentos, a saber: na sua encarnação (presépio), na sua paixão (cruz) e no Santíssimo Corpo
e Sangue do Senhor (Eucaristia). É neste tripé que se desenvolve toda a espiritualidade do
Poverello de Assis.
Francisco, fascinado pelo mistério da encarnação e desejoso de contemplar com
seus próprios olhos tamanho mistério de amor, pobreza e serviço, no qual o Altíssimo Rei e
Pai celestial, o Deus Onipotente desce de seu trono e se faz frágil e vulnerável por amor à
humanidade, faz, em uma noite de Natal, em Greccio, montar um presépio vivo para que
pudesse ter os mesmos sentimentos que os Reis magos tiveram ao contemplar o Messias em
uma manjedoura, a fim de que pudesse fazer memória de tão estupendo acontecimento. E
oferecer seu presente, que diferente dos reis que ofereceram ouro, incenso e mirra, oferta ao
Cristo o seu próprio ser. Como não ficar pasmo ao contemplar tamanha humildade de um
Deus que se faz pobre, servo e humilde a ponto de estar submetido às mais efêmeras situações
humanas?!
O toque de evidência que marcou o coração de Francisco foi a contemplação do
Cristo crucificado. A partir deste encontro com o Crucificado aquilo que era treva em seu
coração torna-se luz. Estupefato com tamanho esvaziamento e doação de um Deus que aceita
morrer numa cruz, Francisco contempla também ali toda a sua pobreza e serviço. Na Cruz
Jesus não tem nada, está nu sobre o madeiro, atado de braços abertos sem direito de defesa.
Mas ao contemplar a Cruz, o que Francisco vê não é a dor nem humilhação, mas, vê no lugar
da dor o amor e no lugar da humilhação o serviço. O Cristo pregado na cruz é capaz nos servir
oferecendo-se como vítima verdadeira, como oferta, não somente para a remissão dos
pecados, mas pura e simplesmente por amor.

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Ao contemplar a cruz, Francisco não enxerga só a morte, mas também a
ressurreição. A Cruz é o estandarte levantado por Francisco como aquele que a assumiu
primeiramente em seu coração quando se encontrou com o Crucificado em São Damião e
depois em sua carne após configurar-se plenamente com o Cristo pobre, humilde, servo e crucificado. O escândalo da cruz é para Francisco sinal de vida e ressurreição. A cruz é o lugar do nada, da pobreza extrema, na qual não se tem vestes, não se tem vontades, não se tem bens nem ninguém. Na cruz o Cristo experimenta o abandono de todos, até mesmo do Pai, “Eloi, Eloi, lemá sabachtháni” (Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste? (Mt 15, 34))
Na cruz o Cristo escolhe doar-se em um sacrifício cruento por amor e para mostrar que o tudo se encontra no nada e assim, Francisco pode exclamar: Deus meus et omnia! (meu Deus e
tudo. (Atos 1, 21)).
O que permeia todo o mistério da Encarnação, Crucifixão e do Santíssimo Corpo
e Sangue do Senhor é a doação. Desde sua encarnação até os dias de hoje, através da
Eucaristia o Senhor continua a se doar, a fazer-se pobre, servo e humilde. A Eucaristia
perpetua a encarnação, pois todos os dias o Cristo desce do seio do Pai sobre o altar, assim
como outrora descera para o útero da Virgem. Perpetua também sua paixão, pois se deixa
imolar sobre o altar num sacrifício desta vez incruento. O mistério da Eucaristia perpetua
ainda sua pobreza e serviço, pois na mísera aparência de pão e vinho, continua a esvaziar-se
de si, para mais uma vez humilhar-se e servir a nós seus filhos. “Ó admirável grandeza e
estupenda dignidade! Ó humildade sublime! Ó sublime humildade! O Senhor do universo, o
Deus e o Filho de Deus, assim se humilha e se oculta na módica formula de pão para a nossa
salvação!” (CO 27).

Referencia:
Bíblia de Jerusalém, 2. ed. São Paulo : Paulus, 2002.
CANTALAMESSA, Frei Raniero, OFMCap. Apaixonado por Cristo: O segredo de Francisco
de Assis. 1 ed. São Paulo – SP : Zenit Books, 2014.
DICIONÁRIO DE FRANCISCANISMO. Coordenação Geral Ernesto Caroli; 2 ed Petropolis
– RJ : Vozes & CEFETAL, 1999.
FONTES FRANCISCANAS. Coordenação Geral Dorvalino Francisco Fassini ; edição João
Mamede Filho. O Mensageiro de Santo Antônio, Santo André, São Paulo 2004.

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