Ordem dos Frades Menores Conventuais

Artigos, Destaques › 15/09/2020

COM SÃO FRANCISCO DESEJEMOS POSSUIR O ESPÍRITO DO SENHOR E SUA SANTA OPERAÇÃO

Carta de São Francisco a Santo Antônio | CFFB Conferência da Família Franciscana do BrasilA partir da experiência de Deus Francisco intui todo um projeto de vida, uma forma de viver segundo o Evangelho. Papel determinante tem o Espírito Santo na espiritualidade de São Francisco. Encontramos abundância de referências à Terceira Pessoa da Trindade no conjunto dos seus escritos. O vocábulo “Espírito” (Spiritus) comparece 95 vezes, com diferentes significados os quais podem ser classificados em três categorias: 57 vezes com clara referência ao Espírito Santo; Essa devoção ao Espírito Santo se caracteriza por alguns aspectos particulares. Um primeiro aspecto revela a fé de Francisco na Trindade, pois repete com frequência fórmulas de louvor e bênção em nome do Deus Uno e Trino. Um segundo aspecto da devoção ao Espírito Santo está focado na intervenção do mesmo na vida do cristão, relacionada com a metáfora do fogo segundo aparece nos Atos dos Apóstolos (Atos 2,1-4). Um terceiro aspecto da devoção de Francisco ao Espírito Santo se refere à sua estreita relação com a Palavra e a vida. É frequente a expressão “Palavra-Espírito-Vida” (cf. 2CFi 3). A Palavra tem sua origem na Trindade e sua máxima expressão é Jesus. Em várias alusões ao Espírito Santo, encontradas nos escritos, se explicita claramente o “Espírito do Senhor” em contraposição ao “espírito da carne” ou “espírito do mundo”. Esse “espírito da carne” não tem a ver com o corpo. É um conceito usado pelo apóstolo Paulo para indicar a influência exercida pela debilidade da criatura, sem a graça da redenção, sobre o ser humano e que se traduz em maus desejos, concupiscência, produzindo más obras. No capítulo X da Regra Bulada, o pai Francisco dá especial relevância aos obstáculos que o espírito da carne pode colocar à ação do Espírito do Senhor. O seráfico pai faz uso da autoridade de Jesus Cristo para em vista de um forte apelo: “admoesto e exorto no Senhor Jesus Cristo a que os irmãos se acautelem de toda soberba, vanglória, inveja, avareza, cuidado e solicitude deste mundo, detração e murmuração…”. São sete atitudes típicas do espírito da carne ou do espírito deste mundo que se opõem à santa operação do Espírito do Senhor. O Espírito do Senhor, ao contrário, “procura a humildade, a paciência e a pura, simples e verdadeira paz do espírito. E deseja sempre e acima de tudo o divino temor, a divina sabedoria e o divino amor do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” (RNB XVII, 14-16). O ápice da exortação de Francisco em relação ao Espírito do Senhor vem descrita no capítulo X da Regra Bulada: “atendam a que, acima de tudo, devem desejar possuir o Espírito do Senhor e seu santo modo de operar, rezar sempre a ele com o coração puro e ter humildade e paciência na perseguição e na enfermidade e amar aqueles que nos perseguem, repreendem e censuram…”. “Possuir o Espírito do Senhor e sua santa operação é o fundamento de toda a vida dos irmãos, pois os torna filhos, irmãos e mães de Jesus Cristo, como ensina o próprio Francisco numa reação espontânea ao considerar as maravilhas da vida cristã, com frases cheias de entusiasmo porém de profundo conteúdo.” (URIBE, 2006, p. 297) Este ensinamento se encontra na 2ª Carta aos Fiéis: “E à medida que todos aqueles e aquelas (…) perseverarem até o fim, pousará sobre eles o espírito do Senhor e fará neles habitação e um lugar de repouso; e serão filhos do Pai celestial, cujas obras realizam. Tendo em nós “o espírito do Senhor e seu santo modo de operar”, seremos capazes de descobrir, observar e contemplar a real presença de Deus neste mundo. Podemos ver em profundidade o mistério de Deus nas realidades que nos cercam. A oração está em profunda conexão com o desejo de possuir o Espírito do Senhor, buscando sua santa operação. “A prioridade absoluta do espírito de oração e devoção para Francisco (e para Clara) não se reduz a um fenômeno extensivo referido ao tempo ou à quantidade de práticas religiosas, mas é antes de tudo intensivo, enquanto Deus se constitui no absoluto da vida.”

clarissas.net.br

Ter o espírito de oração e devoção, a exemplo de nosso pai Francisco e de nossa mãe Clara de Assis, não é só uma forma de rezar, mas é uma atitude de vida que faz parte da vocação de irmão e irmã menor no seguimento de Jesus Cristo. “Para seguir Cristo na oração é necessário ter o mesmo espírito de entrega da própria vida pela salvação de todos, também dos inimigos; assim a adesão à oração de Cristo leva a comprometer a vida pela salvação do mundo e da humanidade. Tanto Francisco como Clara de Assis não nos oferecem método estruturado de oração, meditação e contemplação. Mas, ambos são pessoas de oração e, mais do que isso, são pessoas feitas oração. Somos chamados então, a sermos contemplativos na ação, sobretudo em ajudar aqueles mais fragilizados pela atual pandemia e desprezados pelas autoridades e demais órgãos, os sem voz e sem vez, os desvalidos de ontem e de hoje e que num cenário pós-pandêmico, podem ser os desvalidos do amanhã. Cabe a nós, irmãos e irmãs franciscanos, estender a mão generosa do Senhor, sendo presença e ação concreta na Igreja e no mundo de hoje.

 

Por: Daniel Silbernagel, OFS.

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