Ordem dos Frades Menores Conventuais

Destaques, Formação › 18/10/2021

As bases da espiritualidade de São Lourenço de Bríndisi sobre a Sagrada Escritura, a Encarnação, Maria e a Sagrada Eucaristia

A espiritualidade de São Lourenço é cristocêntrica, com destaque para a Eucaristia e Maria, a Mãe de Deus. No campo bíblico, nosso Doutor foi fortemente marcado pelas tendências exegéticas do Concílio de Trento, principalmente com a promulgação do decreto estabelecendo a Vulgata como autêntica e conforme o uso da tradição da Igreja, em 8 de abril de 1546. Mais, ele dispôs, para leitura, estudo e comentário exegético e pastoral, do texto criticamente revisado, mostrando, porém, mais interesse pelo texto hebraico do que pelo texto grego do Antigo Testamento, pelo que se inclina ao modo exegético de São Jerônimo. O texto grego (LXX), estando em lugar secundário, serve para aclarar o texto hebraico. Para Lourenço não basta saber unicamente o que diz o texto, igualmente importante é saber o que diz o texto para a sociedade.

        Quando falamos da centralidade de Cristo na tradição franciscana consideramos precisamente o evento Encarnação do Verbo. O grande doutor Lourenço, colhe os elementos kenóticos da Encarnação até os elementos salvíficos da cruz. Dessa maneira, coloca em sintonia a Encarnação e a Paixão a partir dos elementos kenóticos em ambos os momentos do mesmo evento salvífico. Diz o santo: “Cristo quis ser um peregrino na terra e veio em forma pobre e humilde para realizar a vontade do Pai: elevar a terra ao céu” (cf. Quadragesimale secundum, Feria secunda paschae 5, vol.3 p. 435).

         Embora a causa da Encarnação seja a salvação do homem, São Lourenço individualiza três elementos para essa causa: a salvação do mundo, a glória de Cristo e a manifestação da Onipotência de Deus. Desse modo, seguindo Duns Scotus, Cristo teria se encarnado mesmo que o pecado não tivesse entrado no mundo. Sendo assim, em Maria de Nazaré, Deus se faz presente conosco, assumindo o tempo e a mortalidade, elevando-os a irrupção da graça e da Eternidade, fazendo brotar na história, o hoje teológico que Cristo é a dinâmica do Reino de Deus. Para ele, Maria, com seu sim, possibilitou que o Filho de Deus se fizesse carne, mas ela também é modelo de vida cristã. Por isso, nenhum pensamento mariano é possível sem o texto bíblico. O Doutor Apostólico não separou a Sagrada Escritura e a Tradição eclesial. Usou esta para fundamentar sua reflexão a partir daquela, demonstrando profundidade no conhecimento dos Santos Padres, dos quais citou oitenta obras em seu Mariale. Para ele, a maternidade divina de Maria em relação a Cristo e a maternidade espiritual em relação aos cristãos é o princípio primário de toda mariologia, do qual derivam seja os demais dogmas marianos, seja toda reflexão mariana. Da maternidade divina vem o fundamento de toda honra e louvor devidos à Mãe de Deus, bem como do culto que se deve prestar a serva do Senhor. Por último, destaco a ênfase do santo sobre a Eucaristia: “não somente quis este Deus estar conosco pelo admirável mistério da Encarnação, Deus feito homem para fazer dos homens participantes da natureza divina (cf. 2 Pedro 1,4), mas também, outrossim, imcompreensível e inefável, através do diviníssimo sacramento do altar, no qual verdadeiramente Deus está no meio de nós. Cristo Jesus, Filho de Deus e da Virgem Maria, verdadeiro Deus e perfeito homem, vive nesse Santíssimo Sacramento: “Deus está no meio de nós. E eis que estou convosco, todos os dias até o fim do mundo (Mateus 28,20)” (BRINDISI, 2007, p. 506). E ainda afirmando a presença real do Senhor sob as espécies sacramentais enfatiza: “este diviníssimo Sacramento da Eucaristia deifica-nos, une-nos em Deus, transforma-nos em Deus, faz-nos outros deuses. Os outros sacramentos são vasos da graça de Deus. Este contém o próprio Cristo, com toda sua plenitude frontal da graça, dos méritos, da glória e da divindade de Cristo: Deus está conosco” (BRINDSI, 2002, p.508).

Daniel Silbernagel, OFS

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BRINDISI, São Lourenço de. 1- O santíssimo sacramento do altar. 2- A admirável mulher do Apocalipse. In: CRISCUOLO, Vincenzo (Org). Os capuchinhos: fontes documentárias e narrativas do primeiro século (1525- 1619) Brasília: Conferência dos Capuchinhos do Brasil, 2007, p. 505-531.

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