Ordem dos Frades Menores Conventuais

Artigos, Destaques › 16/01/2021

A alegria Franciscana na Pobreza

Daniel Silbernagel, OFS.

O seráfico pai experimentou a alegria de abraçar a pobreza, não tanto como carência de bens, mas como sine próprio, sem nada de próprio, o que leva à experiência de ter tudo como dom do Pai das Misericórdias. O grande São Boaventura expressa bem esse modo de Francisco se relacionar com o que é transitório: “o homem de Deus, por amor à altíssima pobreza, aumentou tanto as copiosas riquezas da santa simplicidade que, como não tivesse absolutamente nada de próprio entre as coisas mundanas, parecia, no entanto, ser possuidor de todos os bens no próprio Autor deste mundo.” (Lm III, 6)

São Francisco, Católica, Santo, Francis, Igreja
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Falar de pobreza franciscana é fazer referência a Jesus Cristo pobre e aos pobres que são seu rosto e imagem. Novamente São Boaventura explicita muito bem essa íntima relação de Francisco com a santa pobreza: “ao ver em todos os pobres a imagem de Cristo, dava generosamente aos que vinham ao seu encontro não só coisas necessárias à vida – que por acaso também lhe haviam sido dadas -, mas também julgava que deviam ser-lhes restituídas, como se fossem próprias deles. Não poupava coisa alguma, nem capas nem túnicas nem livros nem mesmo paramentos do altar sem dar – enquanto podia – tudo isto aos necessitados, desejando, para cumprir o ofício da perfeita compaixão, desgastar-se a si próprio.” (Lm III, 7)   Com essa postura, Francisco experimenta a alegria do dar, do partilhar, do reconhecer a presença de Cristo, do acolher com misericórdia irmãos e irmãs em necessidades, do perder a vida por causa de Cristo e do Evangelho e assim ganhá-la, salvá-la. Há maior alegria em dar do que receber e “Deus ama a quem dá com alegria” (2Cor 9, 7).

Como franciscanos, temos de buscar uma vida mergulhada na alegria e no contentamento diante do que é necessário. Não é preciso acumular propriedades ou participar da lógica do consumismo para ter alegria de viver. E a alegria junto aos pobres, enfermos, desprezados não consiste em primeiro lugar no dar coisas e construir estruturas a seu favor, por mais que isso seja válido, mais em aproximar-se com misericórdia, estabelecer relação fraterna e solidária, através de um encontro fraterno.

Francisco completa a verdade e sabedoria sobre a força libertadora da relação entre pobreza e alegria com uma de suas admoestações: “onde à pobreza se une alegria, não há cobiça nem avareza.” (Adm 27) O fruto da cobiça e avareza, além de causar sofrimento e danos a tantas pessoas e a nossa Casa Comum, gera a tristeza. Que o diga aquele jovem rico do evangelho que ouviu de Jesus o convite para dar seus bens aos pobres e segui-Lo: “Tendo ouvido isso, o jovem foi embora entristecido, pois tinha muitos bens.” (Mt 19,22)

A alegria de Francisco, experimentada na vivência da pobreza e convivência com os pobres, se tornava presente em sua prática de oração. Frei Tomás de Celano, registra essa bela referência: “cantava com mais fervoroso afeto e com mais alegre júbilo os Salmos que falam da pobreza, como aquele: A esperança dos pobres jamais será frustrada”. (2Cel, 70) A partir desse percurso de nosso seráfico pai, podemos concluir que a alegria franciscana é fruto de uma intensa busca pelo projeto evangélico de vida que o Senhor mesmo nos indica e revela. Além disso, Francisco percorreu esse mesmo caminho de conversão com alegria, sem má vontade, sem resistências, queixas ou murmurações. Por fim, que tenhamos um coração desapegado, tendo um justo relacionamento com os bens temporais, escolhendo como o próprio Jesus, uma vida pobre e humilde: “Cristo, confiado no Pai, embora apreciasse atenta e amorosamente as realidades criadas, escolheu para Si e para sua Mãe uma vida pobre e humilde. Assim, os franciscanos seculares procurem no desapego um justo relacionamento com os bens temporais, simplificando suas próprias exigências materiais. Estejam conscientes, pois, de que, segundo o Evangelho, são administradores dos bens recebidos em favor dos filhos de Deus. Assim, no espírito das “Bem-aventuranças”, se esforcem para purificar o coração de toda a inclinação e cobiça de posse e de dominação como “peregrinos e forasteiros” a caminho da casa do Pai” (Regra da OFS n° 11). Nesse ano que se inicia, peçamos ao Senhor, que em Fraternidade, possamos doar o que temos de mais sagrado aos nossos irmãos e irmãs, que é a nossa própria vida, com nossas mãos estendidas e nossos joelhos dobrados em oração.

Paz e Bem!

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