Ordem dos Frades Menores Conventuais

Artigos, Destaques, Formação › 04/12/2020

A alegria como tema fundamental da espiritualidade franciscana

Por : Daniel Silbernagel, OFS – Fraternidade de Nossa Senhora dos Anjos.

Vivemos em tempos de muita dor, muito sofrimento, de muitas perdas, muitas angústias diante do presente e do futuro próximo, seja por conta da pandemia do covid-19, seja pela crise econômica, crise racial, crise na saúde, crise na segurança e outros setores de nossa sociedade também mergulhada em uma crise moral. Nesse contexto, cabe a cada um de nós, refletir sobre a alegria como tema fundamental da espiritualidade franciscana, enraizada na alegria cristã. Apesar de todas as contrariedades do tempo presente, temos que repetir como São Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos” (Fl 4,4). O Papa Francisco também nos encoraja a vivermos na alegria, em sua Encíclica sobre a santidade. Não se trata de uma alegria ingênua, que foge das contrariedades, mas firmemente ancorada na Pessoa do Verbo Encarnado. “O Evangelho, em que resplandece a gloriosa cruz de Cristo, convida insistentemente à alegria” (GE, 5). A espiritualidade franciscana é marcada por intensa alegria. Não se trata de uma alegria infantilizada, ingênua ou contaminada pela lógica do consumismo. É uma alegria que caracteriza a própria personalidade de Francisco, mas que, a partir da sua conversão, ele cultivou no seguimento de Jesus Cristo, na acolhida dos dons do Espírito Santo, na prática de uma vida segundo o Evangelho. A Legenda dos Três Companheiros nos brinda com um retrato muito luminoso do jovem e adulto Francisco. “Depois que se tornou adulto e perspicaz de inteligência, exerceu o ofício do pai, isto é, o comércio, mas de maneira muito diferente, pois era mais alegre e liberal do que ele, aficionado aos divertimentos e aos cânticos percorrendo a cidade de Assis de dia e de noite em companhia dos que eram iguais a ele, muito pródigo em gastar, a ponto de dissipar, em banquetes e outras coisas, tudo o que podia ter. (…) No entanto, era como eu naturalmente cortês nos costumes e nas palavras, não dizendo a ninguém, de acordo com o propósito de seu coração, palavra injuriosa ou obscena, pelo contrário, como era jovem brincalhão e alegre, propôs jamais responder aos que lhe dissessem coisas vergonhosas.” (LTC 2-3) Diante dessas informações podemos concluir que Francisco era dotado de uma personalidade, desde sua juventude, com traços de cortesia, generosidade, alegria, prodigalidade, comunicação de brincalhão, com certa excentricidade e que gostava de cânticos, festas, amigos. A alegria em Francisco de Assis e na sua espiritualidade tem raízes no seu temperamento, na sua personalidade, no seu processo formativo. Não foi unicamente fruto da intervenção Divina e do árduo itinerário de conversão. Vale lembrar que a graça supõe a natureza e age a partir da própria natureza e liberdade de cada pessoa. De maneira simples, convido aos irmãos e irmãs, a meditarmos um pouco, sobre alguns pontos sobre o tema da alegria, como parte fundamental de nossa espiritualidade, como nos encorajada o Francisco de Roma e o Francisco de Assis, sendo uma Igreja em saída, do jeito dos dois “Franciscos”, cada qual em seu tempo histórico, mais que nos encorajam, a nunca perdermos a alegria, mesmo que estejamos cercados de luzes ou sombras. Posteriormente, meditaremos sobre a alegria como fruto de conversão, a alegria franciscana na pobreza e com os pobres, a alegria franciscana em Jesus Cristo e por fim, a alegria na Fraternidade. Por isso, sejamos irmãos e irmãs da alegria e da esperança: “Mensageiros da perfeita alegria, procurem, em qualquer circunstância, levar aos outros a alegria e a esperança” (Regra da OFS n.19).

Continua…

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